Uma observação do bom e do "ruim" do Centrinho o hospital reconstrutor de faces, entre dois governos

em sexta-feira, 26 de abril de 2019



Uma breve observação do Centrinho na era FHC e PT, o hospital reconstrutor de face.

Esse post que você vai ler a seguir, de início, foi um relato escrito por mim na madrugada de 24/04/2019 para um amigo virtual, nossa amizade já vai passar de dez anos de existência. Já dura desde a era MSN, foi aliás, um dos meus primeiros contatos.

Vamos fazer uma breve viagem no tempo sobre a história do Centrinho/USP na era FHC e pós FHC, ou seja na era Lula/Dilma/PT.

Vou falar como paciente do Hospital. Não irei defender nada, nenhum político, que fique bem entendido isso gente. E nem mesmo irei acusar qualquer político que quer que seja. Também defender não.

Esperamos que as coisas MUDEM para melhor!

Ano 2001, o começo de uma década e de um novo século.
A minha primeira cirurgia foi em Belém, estado do Pará e até demorei a fazer minha cirurgia, mas não por motivo tipo, que a minha mãe era descuidada igual as irmãs delas, nada disso. Sabe eu me lembro lá com meus 5 anos em diante.

Minha mãe me acordava de manhã bem cedo, ainda de madrugada, para me levar ao médico. Nós acordava 4:30 da manhã. E ela não desistia de ver o filho operado. E aqui em Belém, as coisas são muito lentas e naquela época era pior ainda. Para conseguir uma cirurgia para mim tinha que esperar muito tempo e a minha mãe não desistia. E num desses dias que ela estava comigo no médico, uma senhora conversou com ela e ela falou para ela que no interior de são Paulo, há um hospital que opera pessoas de todo os tipos de problema na face e especialmente pessoas com lábio leporino, que é o meu caso. E a mamãe não se acomodou e ela dizia para a mulher que ela ia levar o filho dela para lá. E realmente ela tentou e ficou mais de um ano correndo para conseguir o melhor tratamento para mim.

E a nossa rotina de acordar de madrugada continuou mais ainda. Ela deixava meus irmãos sozinhos e naquele tempo eles eram todos criancinhas, a minha irmã mais velha, naquela época, tinha só 11 aninhos e eu naquele tempo era o caçula.

Me lembro como se fosse hoje que ela me levou em um médico que ele ia me avaliar para ter certeza se eu deveria ir para Bauru. E naquele tempo era muito mais difícil, uma burocracia terrível. Se hoje ainda é, imagine naquele tempo que as coisas eram mais atrasadas.

O sabor de um grande esforço
E tentando mais a cada dia, ela dava o endereço do meu avô, pois desde de sempre moramos em imóvel alugado e o medo dela era de dar o nosso endereço e a carta chegar e nós não está mais morando no local. Então ela deu o do meu avô. E aí depois que a carta foi para São Paulo (sim, naquele tempo era por cartas, até hoje ainda é só que agora eles enviam por e-mail também) num belo dia, uma tia, que é irmã do meu avô, bateu na porta de casa, não sei como ela achou nosso local, pois ela era uma parente distante e, ela já veio com a carta na mão e disse, “minha filha chegou uma carta para o teu filho para ele ir para São Paulo”, a minha mãe só começou a chorar de emoção e sorrir de alegrias, pois ela viu que ela não tinha feito nada à toa.

Infelizmente eu perdi minha primeira viagem, porque a carta já tinha chego e a minha tia levou muito tarde, mas aí a mamãe não desistiu e ligou para lá, ligou de telefone público, com aqueles famosos cartões. Naquele tempo, só quem tinha celular era quem tinha dinheiro.

E depois nem demorou muito e chegou outra carta. E chegou tudo na data certa. No ano de 2001, fiz minha primeira viagem para tratamento.

A viagem que me mostrou outro mundo.
Confesso que minha primeira viagem de avião foi inesquecível, se não me engano, eu tinha 7 anos. Nunca tive medo algum. Quando pisei em São Paulo, parecia que eu tinha entrado em outro planeta. Tudo diferente. Tudo, tudo. Tudo padrão. Tudo que tem aqui no Pará hoje, lá já tinha a muito tempo. Um exemplo bobo e simples, é que até o ônibus era bem diferente. Me lembro que quando criança no meu estado, os ônibus a pessoa subia por trás e descia pela frente e em São Paulo já era como é hoje aqui, só depois de muito tempo aqui foi ser assim. Esse é o exemplo mais simples de como pequenas coisas eram diferente daqui. Sem citar as outras coisas.

Bom, a maior surpresa foi quando cheguei em Bauru, para onde eu ia naquela cidade eu via crianças com lábio leporino. Eu me sentir no meu mundo. Sem preconceito algum havia ali. Uma das surpresas era que naquele hospital não parecia um hospital do SUS, o tratamento era de primeira.

Ninguém reclamava do tratamento e conforto daquele hospital, ninguém mesmo. Eu não vi durante muito tempo, pessoa alguma reclamando daquele hospital. Era só elogios.

Os funcionários tratavam os pacientes com todo o cuidado que eu nunca e nem minha mãe e nem outros pacientes e acompanhantes conseguiam ver na sua terra natal.

Ali tinham pessoas de todo os cantos do Brasil.
Ninguém se preocupava em se manter ali, porque tínhamos tudo, tudo que você pode imaginar.

O início do caos.
Era a era FHC. Alojamentos? A minha mãe pensou nisso, ela se preocupou com isso. E por isso que na primeira vez ela levou uma boa quantia em dinheiro.

Até fez uma grande festa antes de eu ir para lá e nessa festa o objetivo era arrecadar dinheiro para minha viagem. E todos os vereadores daquela pequena cidade ajudaram. Eles iam na porta de casa levar os eletrodomésticos que seriam sorteados no bingo. E deu bastante gente na festa. E o meu padrasto daquela época tinha um som, um som bem grande. Então, ele mesmo usou o som cujas caixas eram maiores que eu. Nem precisou alugar um.

Então quando mamãe chegou em Bauru comigo, ela se surpreendeu quando ela soube que o governo daquele estado mantinha um prédio grande e nesse prédio ficavam todos os pacientes com os acompanhantes. E nele tinha de tudo, tudo que era de comida saudável. As pessoas comiam até ficarem satisfeitas. E esse prédio que se chamava Retaguarda, não era o único não.

Na frente do hospital, tinha outro prédio, só que era menor, mas que abrigava também os pacientes com acompanhantes. Quem ficava nesse prédio menor, só fazia atravessar a rua para ir para o hospital. E na Retaguarda, tinha ônibus de graça que levava todos os pacientes e acompanhantes até o hospital. E era todos os dias. Era tudo de bom. Não havia sequer uma reclamação.

A educação das pessoas desde de criança era totalmente diferente do que eu tinha visto aqui.
Um exemplo, um dia entramos numa loja e notei que entrou uma mulher com o filho dela e ele era “perfeito” saudável e quando vi ele entrando eu pensei só comigo “ele vai querer me encarar, por causa do meu problema”, e para a minha surpresa o garotinho olhou para mim e nem se importou, ou seja, ele não viu diferença nenhuma em mim. Para ele o garotinho visto naquele momento era normal e é por isso que a educação muda um país. Essa declaração faz todo o sentido.

O nível de educação deles é maior e isso é um fato, qualquer pesquisa se for feita e comparar o nível de educação da população do Sudeste com a do Norte a diferença seria, na verdade é grande. E isso de incentivar a pessoa a estudar é desde de criança.
Eu pensei, esse é meu sonho, nunca mais voltar para aquele lugar.

O mais doce sabor de uma amizade
Sem falar que fiz amigos ali, que alguns tinham lábio leporino. E vale a pena não esquecer, que foi nessa viagem que nós conhecemos uma mulher que era paraense também e ela era MUITO divertida e ela gostou demais da gente e a gente dela. E ela ficou muito apegada com a mamãe e viraram amigas.

O jeito dela de ser amiga era só o jeito dela de ser ia além daquilo que minha mãe já tinha visto. E nisso nós ficamos muito amigos e a amizade foi forte que prometemos que quando voltarmos para Belém, iríamos visitar ela com o filho dela e ela a gente. E isso realmente aconteceu. Ficamos muito amigos. Me lembro, inclusive esses dias, aqui em casa só eu e a mamãe sobre a Dalva, só que nós não aguentamos porque ela foi inesquecível. Um amor puro de amiga. Pena que a mamãe nunca deu valor em amizade alguma, mas com ela deu. Ela tinha medo de se decepcionar, não com a Dalva, mas com outras pessoas. E ela gostava da Dalva. E um dia a Dalva convidou a gente junto com meus irmãos e meu padrasto para ir no aniversário dela e que ela ia fazer uma grande festa. E ela adorava a mamãe. E eu lembrei dela aqui e disse: “mãe a senhora lembra para quem ela deu o primeiro pedaço de bolo naquela festa, lembra que foi para a senhora?” E nós não aguentamos choramos juntos. E continuei “a senhora até ficou morrendo de vergonha dos amigos da Dalva e principalmente das irmãs dela e da mãe, porque a senhora pensava que o primeiro pedaço de bolo jamais seria pra senhora. A senhora até não aceitou no início”. Ela foi inesquecível. A Dalva foi sim. Toda vez que lembro dela eu choro. Agora mesmo eu to chorando.

O momento jamais esperado
Mas voltando a falar do mundo que era e foi até a pouco tempo São Paulo. Só que aí, logo depois veio a outra eleição para presidente e aí você já sabe quem foi que entrou no poder né? Pois é, um verdadeiro câncer. Depois que fomos outras vezes, inclusive já com o PT no poder, percebemos as primeiras mudanças quando chegamos em São Paulo. Primeiras delas, o alojamento que ficamos da primeira vez e que tinha de tudo e mais, que alojava centenas e creio que até milhares de pessoas para tratamento, pessoas aliás, de todos os cantos do Brasil e até também de outros países, esqueci de dizer, mas o Centrinho, que é o nome do hospital e que faz parte da USP, era até a pouco tempo considerado o melhor e mais especializado centro médico de toda América Latina sobre o assunto era deformidade no crânio, não sei te dizer se é ainda. Mas o alojamento, foi o primeiro a fechar as portas. E aí todos ficaram assustados com a notícia. O único que ficou foi o que ficava de frente pro hospital e que abrigava bem menos gente.

Mas mesmo assim o atendimento continuou sendo de primeira, mas que infelizmente, aquele centro foi fechado. E aí, ao passar dos anos, muitos, muitos e muitos anos depois o Centrinho continuou recebendo um monte de gente. Mas aquilo não era por muito tempo. Uma certa vez, numa de muitas operações que fiz e fiquei internado, uma enfermeira soltou o verbo, acho que ela falou o que ninguém sabia, exceto só os funcionários como ela.

Ela dizia que o hospital ia deixar de receber muita gente. Nossa, aquela mulher contou cada coisa, contou que o hospital não estava recebendo mais verbas como antes e que isso causaria a suspensão de muitas cirurgias e também de tratamentos, como dentário. Segundo matéria do G1, em 2013, o Centrinho realizava 4 mil cirurgias por ano. E ninguém, nenhum dos pais presentes ali acreditou nela nem mesmo a minha mãe, ela até criticou a enfermeira para as outras mães que estavam com os filhos internados ali. E o que aquela mulher havia dito, infelizmente vi acontecer depois de uns anos, e era por isso que o hospital sempre fazia campanha para o José Serra ganhar a eleição para presidente, em um dos eventos do hospital no aeroporto, eles levaram muitos pacientes para receber o José Serra em pleno aeroporto de Bauru e eu fui e eu estava até com o rosto todo com pontos, estava operado. O Centrinho, sim todos do hospital estavam ali, inclusive o tio Gastão, que era o diretor do hospital e que tratava todos como um pai. O Centrinho me deu uma sacola de pano bem bonita com vários salgados para dar para José Serra. E ele veio até a minha direção e conversou comigo fez umas gracinhas e bateu fotos e deu um autógrafo para minha mãe. Lembro que toda imprensa de Bauru estava ali presente.

A grande decepção de uma nação.
Infelizmente, aquele mesmo político seria mais tarde citado na mais esperada delação o da Odebrecht. Delação essa que todos temiam e que todo mundo dizia que seria a delação mais sombria, diziam ser a “Delação do fim do mundo” e está realmente sendo. Na acusação, o político recebido de braços abertos por pacientes, foi acusado de ser o solicitante de 52,4 milhões para o seu partido. Isso na maior operação contra a corrupção já feita na história do mundo, onde levou para o xadrez vários ex-governadores e até governador no exercício do mandato. E para chocar ainda mais, dois ex-presidentes da República do Brasil foram para a cadeia. O outro já foi solto, ele pode esperar sentado que vai ser condenado se o julgamento dele for justo.

Nem mesmo a pessoa mais pessimista imaginária que políticos eleitos democraticamente pelo povo fosse ser pior que pareciam ser.

Após muitas tentativas frustradas do Centrinho tentar eleger novamente um candidato do PSDB à presidência do Brasil, infelizmente, não conseguiu. Na visão do hospital, naquela época o mais preparado para melhorar e fazer o Centrinho retomar num bom ritmo e evitar o pior, que infelizmente foi inevitável, imagino eu que vinha do PSDB. Se conseguissem o Brasil não estaria tão bestializado (note que eu disse “TÃO” e “NÃO”) e doutrinado como está hoje. Poderia não está uma maravilha, mas também não numa grande decepção que está. Talvez não seria o melhor, mas a decisão do voto era para escolher o menos pior.

Vou ser mais breve e direto em como está as coisas hoje no hospital que mudou a vida de muitas pessoas por décadas. Bom, hoje não é o mesmo hospital que eu e muitas outras pessoas conhecera.

Cortaram tudo, burocratizaram TUDO, não existe mais NENHUM alojamento, exceto o que ficava de frente do hospital, só que nem dormir mais ali pode, só aceitam pessoas durante o dia, sem sentido isso, se o mais importante é um lugar para passar a noite.

Sabe o que houve, sabe imaginar como é que está a situação do hospital, que nem mesmo os mais utópicos em suas mais fascinantes utopias jamais conseguiriam descrever que poderia haver um centro público tão valioso como o Centrinho?

Ah, é tão chato ter que responder essa pergunta, é chato por ser um caso real, literal, provado e documentado que o número de atendimento caiu absurdamente. Hoje não apenas essa pessoa que vos escreve, mas também muitas outras que fizeram a história daquele lugar e aquele lugar também fez histórias na vida dessas pessoas que ficarão para a vida toda. Quando entram naquele hospital sentem um grande aperto e angústias no coração, quando olham para aquelas cadeiras vazias, sim, não é como antes mais. Todo mundo diz isso. Hoje é só lamentação dos antigos pacientes. Não estou dizendo que hoje ele é o pior hospital do mundo, não, nada disso, mas dizer que hoje ele é melhor que antes é até triste e injusto dizer tal absurdo.

Os mais afetados.
Muitos pacientes, inclusivamente os mais humildes, tiveram que parar o tratamento e um dos emotivos motivos que tiveram que tomar essa “decisão”. É que com a crise em que o país se encontra, o TFD de muitos estados começaram a negar ou então a “enrolar” os pacientes para liberação das passagens aéreas que garantiram uma melhora em suas vidas e um dos motivos mais fortes, é que não tem mais onde ficar naquele lugar, muito menos os mais necessitados. Não tem condições financeira para se manter lá. O que sobrou no lugar dos alojamentos oferecido do governo foi a multiplicação de pousadas ao redor do hospital, só que agora, até as pousadas estão vazias.

A crise que o Brasil se meteu, atingiu realmente o país todo, mais fiquei assustado o quanto ela atingiu São Paulo, me lembro da última vez que estive ali em pleno início de 2018, andando pelas ruas, no lugar onde ficavam vários comércios estão com
placas de venda ou de aluga-se.

Até para entrar no hospital só pode entrar se provar que tem atendimento, senão nem adianta chorar.

Não é mais o melhor hospital público existia e que tinha visto em minha vida. Um tratamento de causar inveja a qualquer outro hospital de qualquer outro lugar do Brasil ou até mesmo do mundo.

Infelizmente, o querido Centrinho, não é mais o que nasceu para ser, e que de fato chegou a ser por muito tempo, a mais pura essência. Fim.

Se chegou até aqui então quer dizer que você leu tudo. Se há algo que tenha discordado, é um direito, mas que seja com educação.

Instagram: PaulloGusttavo

Twitter: Paullo_Gustavo

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