O cantor, cujo nome verdadeiro é Nivaldo, já passou fome e dormiu em rodoviária. Conheça a trajetória que o levou à fama e à fortuna
Cantor Sertanejo Gusttavo Lima - Divulgação |
Dois anos depois que seu filho caçula nasceu, o tratorista Alcino Lima foi ao cartório para, enfim, registrar a criança. Saiu de casa com a recomendação da mulher, a lavadeira Sebastiana, de dar ao menino o sonoro nome de Samuel. No caminho, Alcino encontrou um primo desencontrado pelos desvios da vida. Conversa vai, cerveja vem, quando conseguiu sair do bar e chegar ao cartório, Alcino registrou a criança com o nome do primo: Nivaldo. Foi como Nivaldo que ele tentou, dos 9 aos 12 anos, levado por irmãos mais velhos, fazer sucesso como cantor, enquanto as três irmãs pegavam no pesado -- na roça ou como empregadas domésticas. Em Presidente Olegário, cidade pequenininha de Minas Gerais onde morava, Nivaldo não emplacou. Tentou seguir carreira em Brasília e, por sugestão de um empresário, trocou o nome para Gustavo. Também não deu certo. Dormiu em chão de rodoviária e chegou a passar fome. Perto de desistir de tudo, outro primo importante na saga familiar sugeriu: “Tente pela última vez, mas vá para Goiânia. É lá que os sertanejos acontecem”. Colocado no lugar certo, com a voz certa e o rostinho bonito certo, ele deu o toque final ao acrescentar um segundo “t” ao nome artístico. Estourou.
Quem resiste ao tchê tcherere tchê tchê de Gusttavo Lima? Certamente não as meninas que enlouquecem à simples sugestão da consoante dobrada. Aos 22 anos, o cantor já tem um patrimônio de
fazer inveja a muito sertanejo com mais tempo de estrada da vida. Bens mais chamativos: um Lamborghini laranja 2008 (preço: 850.000 reais), um Maserati branco conversível 2010 (650.000), um jatinho de seis lugares (4 milhões) e uma casa de 300 metros quadrados (2 milhões) no mesmo condomínio, em Goiânia, onde moram os sertanejos Leonardo e Amado Batista. Ele também já deu uma fazenda aos pais e um apartamento a cada um dos seis irmãos. Os laços de família são reforçados por empregos na estrutura do astro. A irmã Roseli é a administradora do dinheiro de Gusttavo e a sua defensora mais inflamada. Sobre uma foto recente, que mostrou o cantor ao lado de um cigarrinho artesanal, ela garante: “Não era maconha. Era cigarro de palha!”. Sobre o flagrante policial no qual foi pego dirigindo o Lamborghini sem nunca ter tido tempo para coisinhas banais como tirar a carteira de habilitação, Roseli desafia: “Quem nunca fez isso?”. A turma de irmãos protetores inclui Luciano, o braço direito do cantor, que tatuou em seu próprio braço direito o nome Gusttavo Lima. Entre as funções de Luciano estão a de carregar a maleta de maquiagem do irmão (“Ele usa corretivo, base e passa delineador em uma pinta da bochecha, para ressaltá-la”, informa a maquiadora Fabrícia Fleury) e a de preparar os pratos de que ele não abre mão. “Gusttavo gosta de angu, jiló e frango com quiabo. Nos hotéis em que se hospeda, vou para a cozinha fazer a comida dele”, diz Luciano. Cuidados - O ponto mais alto de Gusttavo, em muitos sentidos, é o cabelo. O corte, igual ao de Neymar, um dos melhores amigos do cantor, exige uma lista de cuidados. O primeiro é negar que ele seja igual ao do Neymar. “Não tem nada a ver. E o meu é mais bonito”, diz. O corte exige retoque mensal, hidratação quinzenal e pomada enrijecedora diária, tudo obra do cabeleireiro Osmarques Correa, autoapelidado Maiky. Nos shows em espaços maiores, Maiky abre uma barraquinha em um canto da plateia, onde reproduz, por noite, até quinze cortes idênticos ao do cliente master.
A mistura de pouca idade, muito dinheiro, origem humilde e vida de celebridade faz de Gusttavo um rapaz que alterna simplicidade adorável e pose considerável. Ele diz, por exemplo, que a mãe é “o grande amor” de sua vida, e se emociona ao contar que ela lavava roupas em troca de uma lata de óleo. Quase em seguida, fala sobre sua fama de conquistador: “As meninas é que têm de se adaptar a mim”. E como se adaptam. Pessoas do entorno do cantor enumeram as ficantes conhecidas: uma assistente de palco do Gugu, outra do Luciano Huck e mais uma do Silvio Santos. Atualmente, ele anda conhecendo melhor o trabalho da abdominalmente privilegiada cantora Alinne Rosa. Além das garotas cheias de bons acabamentos e más intenções, o sucesso também trouxe aperfeiçoamentos estéticos. As espinhas do cantor diminuíram, suas roupas subiram de patamar -- “Adoro as da Calvin” (Klein, evidentemente) -- e os músculos do corpo esguio, devidamente trabalhados, aumentaram.
Quando sua música mais conhecida, Balada, chegou às mãos de Gusttavo, ele a considerou “tosca” e pediu ao empresário para não gravá-la. Não foi ouvido e o tchê tchê tchê mudou sua vida. Hoje, os shows do cantor custam 300.000 reais e ele faz 27 apresentações por mês (o que corresponde a uma média de R$ 8 milhões por mês). “Os parentes, que antes eram vinte e escondiam a comida quando a gente chegava, hoje são 500”, brinca Wilian, outro dos seis irmãos. “As pessoas acham que apareci ontem, mas minha história é de muito sofrimento e humilhação”, diz Gusttavo, em mais uma de suas frases bonitinhas. Daria até uma música, mas sertanejo moderno tem de emplacar na balada, não na toada.
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